Crítica do filme "Silêncio"
Escrito por
Viviane Oliveira
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Depois de um projeto de mais de vinte anos Martin Scorsese finalmente lança o filme "Silêncio" inspirado no livro homônimo do japonês Shusaku Endo.
LIVRE DE SPOILERS
A história se passa no século XVII onde dois padres portugueses, Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver), viajam até o Japão a procura de seu mentor, padre Ferreira (Liam Neeson) em uma época em que o catolicismo foi banido e o governo pune friamente aqueles que os seguem e os que disseminam.
O tema religioso é sempre difícil de abordar, mas Scorsese fez isso de uma forma real e mostrando os dois lados da moeda. Por um lado via-se os padres que queriam espalhar a palavra de Deus e levar assim conforto aos cristãos, por outro os japoneses tinham uma cultura própria e que estava sendo ignorada por uma "verdade" que não era a deles. É perceptível também como o cristianismo foi moldado quando chegou ao Japão, por mais que eles aprendessem sobre Deus e a biblía eles tinham uma própria interpretação, diferente da "original".
Ser indicado na categoria de "Melhor Fotografia" no Oscar desse ano é de total merecimento. Com paisagens incríveis, cores pálidas e uso da neblina em muitos momentos sugere a morbidez do tema abordado. Um destaque também é para os sons e em alguns momentos a ausência dele que destacam o "silêncio" do título do filme que deixam a tensão e a dúvida quanto a influência divina.
O personagem de Garfield foi o mais destacado e o ator soube honrar essa oportunidade. Depois do filme "Até o Último Homem" que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2017 de "Melhor Ator", ele mostrou sua capacidade em cenas dramáticas e em cativar a audiência. Neeson e Driver tiveram aparições menores, mas isso não tira o peso da presença e da atuação de cada um.
O que deixaria o filme mais singular teria sido o fato de usar a língua portuguesa, devido a origem dos padres. É compreensível que a língua inglesa é muito mais indicada quando levada a distribuição do filme em conta, mas incomodou ver as referências a Portugal e ao português enquanto os diálogos eram feitos em inglês.
O filme é extenso, assim como qualquer filme de Scorsese. Com pouco mais de 2h40 de duração ele poderia ser divido em três partes: os jesuítas chegando no país e encontrando os cristãos, como era a vida após a prisão deles e a vida caso eles escolhessem renunciar à fé católica. Apesar disso com uma narração, ferramenta muito bem utilizada pelo diretor, o público acompanha e visualiza a história sem perder o ritmo.
É uma pena que um filme tão rico em atuações, com uma direção marcante e com um tema de destaque tenha apenas uma indicação ao Oscar. Apesar disso, esse é um longa que faz com Scorsese possa agradecer porque depois de tantos anos nesse projeto suas preces foram ouvidas.
O filme estreia dia 9 de março de 2017.
4,5/5