PRIMEIRAS IMPRESSÕES 'DEAR WHITE PEOPLE'
Escrito por
Viviane Oliveira
Publicado em
Mais uma vez a Netflix aposta em um assunto polêmico para suas séries: depois da série tão comentada "13 Reasons Why" agora chega para seus assinantes "Dear White People" onde racismo é abordado.
Pra quem não sabe a série de dez episódios - cada um com duração de aproximadamente 30 minutos - baseia-se no filme homônimo de Justin Simien (responsável por escrever e dirigir três episódios) e parte de onde ele acabou: dois meses depois do início do semestre na Ivy League Winchester University, uma universidade de elite americana predominantemente branca. Assim como no filme a história gira em torno de Samantha White (Logan Browning), uma estudante de cinema que possui um programa de rádio onde expõe várias críticas a transgressões raciais dentro e fora da faculdade.
Cada episódio é centrado em um personagem e sua individualidade. Isso vem pra desmistificar os esteriótipos que os filmes, as séries ou a sociedade têm dos negros. Por isso, vocês ficarão sabendo um pouco sobre alguns deles a seguir.
- Comecemos com Samantha, nossa protagonista, uma mestiça que já se sentiu excluída por ser muito branca pra ser negra e muito negra pra ser branca. Ela é uma líder, forte, inteligente, militante, mas que apesar dos ideais mantém um relacionamento com um garoto branco, Gabe (John Patrick Amedori). Seus amigos encaram isso como um desapontamento e ela tem que lidar com valores éticos, sentimentos e a carga de fazer algo pelo que acredita.
- Lionel Higgins (DeRon Horton) é um estudante de jornalismo que começa tímido, mas ao longo da temporada descobre sobre si mesmo e sobre seu potencial. É de extrema importância porque ele tenta dar voz a causa usando a imprensa pra tentar deixar as coisas um pouco mais justo, mas nem tudo sempre sai como planejado.
- Troy Fairbanks (Brandon P. Bell) é o filho perfeito, o estudante perfeito, o orador perfeito. Toda essa perfeição é exigida por seu pai, reitor da universidade, com quem ele não tem uma relação afetuosa. Ele consegue o respeito das pessoas brancas, mas em troco ele tem que se calar sobre o que realmente acha e isso mostra como o sistema é injusto. Contanto que você seja quieto e atenda aos padrões você pode ficar entre nós, caso contrário apenas fecharemos os olhos para você;
- Reggie Green (Marque Richardson) é é um estudante da área de programação muito inteligente. Ele foge do clichê de que todo negro destaca-se apenas nos esportes e isso é deixado claro. Com certeza a cena mais forte e decisiva pro rumo da série envolve Reggie e uma lembrança do movimento "Black Lives Matter". Não daremos mais detalhes para não estragar a experiência para quem não assistiu;
- Coco Conners (Antoinette Robertson) é complexa. Em um primeiro momento ela parece uma patricinha fácil de decifrar, no outro ela parece carregar uma bagagem de dor e sofrimento que a moldaram. Nela vemos as pessoas que renegam quem são, sua cultura, sua aparência física, para se adequarem a cultura de outras pessoas pra se sentirem "normais". Muitas mulheres sabem o quanto o cabelo afro é hostilizado e essa personagem tem vergonha dele, com certeza assistindo haverá uma identificação por parte do público. O quanto você renegou quem você é pra tentar ser aceita?
A forma como a história foi conduzida, mostrando o mesmo momento mas da perspectiva de cada personagem deixou tudo bem estruturado. Só faltou um pouco de empolgação durante os episódios, mas que compensado no último da temporada. Ele deixou um belo gancho pra uma segunda temporada, basta um interesse maior por conta do público.
Com certeza o marco dessa série é a sátira da negação ao racismo. Em diversos momentos a famosa frase "eu não sou racista, até tenho um amigo negro" parecia ser ecoada quando um personagem branco tinha uma atitude claramente racista, mas não admitia porque tinha medo da palavra, mas não da atitude.
Seria possível escrever praticamente um livro tendo como base apenas a primeira temporada, mas isso foi pra terem uma ideia do que vocês encontrarão. Enquanto o racismo existir e as pessoas negarem sua existência muitas vidas serão afetadas tanto psicologicamente quanto fisicamente. Essa é uma luta, que apesar de ter uma voz de fala, envolve cada um. A partir do momento em que as pessoas pararem de usar discurso de meritocracia e admitirem que as pessoas não saem da mesma linha de largada aí sim mudanças poderão ser vistas.
4,5/5