Filme "A Cor Púrpura" traz uma versão mais colorida e esperançosa do clássico de 1985
Escrito por
Lilia Fitipaldi
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Quando a nova adaptação de The Color Purple foi anunciada em 2018 muitas perguntas começaram a ser feitas: Quem seria o diretor? Quem seria escalado para formar o elenco? Quais músicas seriam cortadas? E Será que Cynthia Erivo, uma das últimas a viver o papel de Celie na Broadway, reprisaria seu papel, agora no longa?
Para a felicidade de alguns, e provavelmente receio de outros, o longa começou a tomar forma e acabou sendo colocado nas mãos de: Blitz Bazawule (Black is King) como diretor e Marcus Gardley (Foundation) como roteirista, isso além da produção de Steven Spielberg; Oprah Winfrey; Quincy Jones e Scott Sanders.
A Cor Púrpura narra a história de Celie uma afro americana que vive na Georgia de 1909 (interpretada em sua versão mais nova por Phylicia Pearl Mpasi) e de sua irmã Nettie (vivida em sua versão mais nova por Halley Baley). Celie é obrigada pelo pai a trocar um totalmente lar abusivo por outro quando se casa com “Mister” Albert (Colman Domingo).
Desrespeitada, negligenciada e violentada ela tira forças e conforto do amor de sua irmã mais nova e da esperança de reencontrar seus filhos novamente, até que seu marido, completamente revoltado por ter sido “rejeitado” por Nettie a expulsa de casa, ameaçando matar ela e sua irmã caso ela volte a pisar em suas terras. Sem escolha a não ser fugir, Nettie se despede da irmã prometendo lhe escrever cartas.
Alguns anos passam e vemos uma Celie mais velha, solitária e desalentada (interpretada por Fantasia Barrino) que depois de anos de tanto sofrimento, e sem notícia alguma de sua irmã, ela perdeu completamente seu cerne e alegria, assim obedece totalmente ao marido por mera questão de sobrevivência.
A vida de Celie muda quando duas mulheres entram em sua vida: Sofia (Danielle Brooks) a audaciosa esposa de seu enteado Harpo (Corey Hawkins) e a misteriosa Shug Avery (Taraji P. Henson) uma cantora de blues e antiga paixão de Albert que mesmo com altos e baixos acaba voltando para os braços dele. Ambas acabam contagiando Celie com sua intensidade e determinação.
Celie por sua vez acaba ficando completamente encantada por Shug, como a maioria, e morando sob o mesmo teto as duas acabam se tornando intimas.
Nessa nova versão The Color Purple ganhou mais cores, o que combinaram perfeitamente com sua trilha sonora meio gospel, meio jazz e soul. As músicas trouxeram um tom mais “alegre” e esperançoso para a narrativa que é repleta de dor e violência.
O elenco dá a história uma nova dramaticidade e sensibilidade, bem diferente da antiga versão de Spielberg, porém não menos impactante.
Fantasia Barrino & Phylicia Pearl Mpas conquistam sua empatia imediatamente. Barrino conquista ainda mais quando solta a voz, sua versão de I’m Here torna ainda mais necessária a recomendação de manter uma caixa de lenços por perto durante a sessão.
Danielle Brooks rouba completamente o momento para si quando entra em cena. A força, o entusiasmo e a resiliência de sua Sofia mostra perfeitamente a razão dela ter sido a escolha perfeita para viver mais uma vez a personagem, percebemos que depois de interpretá-la na Broadway ela é realmente bem familiarizada com toda a valentia de Sofia (o que justifica não só sua indicação ao Oscar por Melhor Atriz Coadjuvante com também o Tony Awards que ela venceu em 2015).
Além delas Halle Bailey entrega uma doçura e ingenuidade com sua Nettie que praticamente te faz desejar que ela tenha mais tempo em tela e Gabriella Wilson (H.E.R.) deu um tom de seriedade a Squeak/Mary Agnes abrindo um pouco mão do alívio cômico que a personagem tinha no filme de 1985, ela também da uma voz um pouco mais alta e ativa a personagem, dentro do pouco que lhe foi dado.
Essa nova versão é praticamente uma grande miscelânea do filme de 1985 com o musical da Broadway. O roteiro e a edição equilibram bem e souberam o que reduzir de um/acrescentar do outro, quais falas e enredos de enredos de personagens secundários cortar e “aumentar” e vice e versa.
Um grande exemplo disso é a música Celie, Miss Celie’s Blues (Sister), que Shug escreve como um “agradecimento” por todo cuidado e acalento que ela teve por ela. Apesar de ser uma das poucas músicas apresentadas no longa de Spielberg ela não entrou na versão de palco.
Porém como toda adaptação de musical, essa também precisou cortar músicas da história. Duas que eram de suma importância para dois arcos da história acabaram sendo descartadas: Too Beautiful for Words - que praticamente introduz o romance entre Celie & Shug (que assim como a versão de 1985 foi pouco aprofundado) e também Celie’s Curse que é parte importante para a redenção de Albert (que aqui é melhor elaborada, ainda que tenha sido bem reduzida.)
Podemos dizer que essa versão conseguiu juntar o melhor dos dois mundos: toda a pureza do clássico de 1985 com a magnificência da versão da Broadway. A Cor Púrpura é um filme sobre dor; solidão; trauma, mas também sobre amor, beleza, autenticidade e talvez acima de tudo sobre como não perder a gentileza e a esperança no caminho.
Distribuição: Warner Bros.
Nota: 4,5/5
Estreia: 08/02/24