"Zona de Interesse" indicado em cinco categorias do Oscar mostra o horror na vizinhança de Auschwitz
Escrito por
Redação Acidamente Sensível
Publicado em
O filme se passa em meados da Segunda Guerra Mundial, acompanhando um comandante nazista, que vive uma vida ao lado da sua esposa e filhos na casa dos sonhos. O grande porém é que essa casa residia ao lado de Auschwitz, que foi o mais famoso campo de concentração e local que ocorreu o holocausto. O filme não cria grandes alardes ou momentos que constroem um grande momento narrativo, muito pelo contrário, essa informação é nos dada a partir de uma cena comum e sem nenhuma preparação. Mas é isso que o diretor queria demonstrar para o público: um estudo sobre a banalização da perversidade do nazismo.
Todas as minhas expectativas foram jogadas fora ou subvertidas a partir dessas informações. Ao tratar de uma cicatriz tão grande na história da humanidade, o filme poderia beirar a irresponsabilidade e permear a ofensa ao fazer que a trama fosse focada na perspectiva nazista. Mas, ao abordar essa narrativa, Jonathan Glazer brilha ao mostrar que sim, no final das contas eles eram humanos, que viviam suas vidas normais com esposas e filhos, tinham seus problemas e dificuldades, mas que, apesar dessa características banais, os mesmos ainda eram capazes de torturar e matar seres humanos sem qualquer tipo de remorso.
Uma das maiores quebras de expectativas foi principalmente a forma que a história é contada. Se você está esperando um ritmo mais intenso é melhor ajustar a expectativa, o filme é contado de forma lenta e sem pressa, criando de forma devagar o ambiente e a imersão do público. São 1h45m de cenas extensas e densas, o que se pode considerar corajoso, pois uma escolha dessas pode facilmente afastar diversos públicos, principalmente por não ser tão habitual essa maneira de contar histórias.
Em nenhum momento o filme apresenta cenas de ação ou que induzem mais facilmente o público a ficar tenso. Aqui, a falta de empatia dos personagens, a crueldade espalhada sem moderação em diálogos banais, a falta de jornada de redenção ou qualquer tipo de empatia, gera um embrulho no estômago do começo ao fim do filme. Em todo momento, a tensão é construída a partir da perversidade em momentos no dia a dia da familía de Rodolf, comandante nazista e protagonista da história. Desde diálogos com sua esposa Hedwig Höss (Sandra Hüller) ou discussões com outros generais, o longa demonstra a vida perfeita dos nazistas e como que para eles, tudo que estava acontecendo era só mais um dia qualquer, algo rotineiro.
Mas, o diretor quis ir além ao mostrar o terror do holocausto, pois o horror que está inserido no filme abraça além do visual, pois é partir de sons, trilha sonora e da nossa imaginação, que Glazer consegue nos causar sensações terríveis e desesperadoras. Sufocando o telespectador de possibilidades monstruosas do aconteceu dentro dos campos de concentração. Nada do que eu esperava do filme me preparou para esses momentos, é uma experiência imersiva poucas vezes vista nas últimas décadas.
“Zona de Interesse” consegue atingir um dos vários e mais ousados objetivos de qualquer obra: a provocação. Em todo momento, mesmo que não tenha uma gota de sangue, sequer uma perseguição, o filme gera desconforto, terror, tristeza, angústia e raiva, conseguindo fazer com que quem esteja vendo e sentindo tudo isso, se difira dos monstros que a história demonstra. É genial e provocador, pois a todo momento é como se o longa servisse como uma prova de humanidade, e também um lembrete, pois por mais que vivamos nossas vidas de forma automática, é preciso sempre olhar para o passado e não cometer os mesmos erros no futuro, deixar de ser apático e lembrar que essa raiva e desconforto são o que faz a gente ser humanos e não monstros.
Escrito por: Pedro Godoy
Nota: 4,5/5