Namorado Imaginário - Capitulo Um
Escrito por
Djenifer Dias
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Um
Manhã
de segunda-feira o despertador berrava ao som da música irritante que eu me arrependi
de ter colocado. “Droga!” pensei em quanto colocava com pressa meu uniforme.
Peguei uma maçã e corri para o meu trabalho. Chegando por lá entrei em minha
sala e comecei a ajeitar meu avental.
- Anne enfim você chegou, atrasada como sempre! –
berrava meu chefe.
- Me desculpe senhor Monroe eu... – mas, ele nem
ao menos me deixou terminar e disse: - Me poupe de suas desculpas, e vá
trabalhar!
Peguei meu talão de pedidos e fui anotar o pedido
de um grupo de estudantes que chegavam.
- Posso ajudar? – perguntei.
- Espera ai, Anne Marie? – perguntaram pra mim.
Me virei para olhar. Era Frederico, ele tinha
estudado comigo 4 anos atrás em quanto eu ainda estava no ensino médio.
- Ér... Oi.
Era tudo que eu queria, ver um antigo aluno do
colégio particular onde eu estudava me ver de garçonete em quanto ele se
sentava com seu grupo de amigos universitários.
- Quantos anos! – ele disse se fingindo animado.
Eu já me preparava para sua frase sarcástica, tão
comum quando o assunto era ele que sempre me atordoava na escola.
- É bastante, qual será o seu pedido?
- A eu vou querer esse numero 14 e o numero 20,
mas eai o que faz da vida?
- Trabalhando, daqui a pouco eu trago seu pedido.
Me virei segurando o choro e correndo para a
cozinha da Blue Birds lanchonete onde trabalhava, entreguei o pedido e comecei
a chorar.
- O que foi Anne? – me perguntou Munhoz nosso
cozinheiro.
– Nada, eu
estou bem – disse enxugando as lágrimas que teimavam em cair.
- Se você esta chorando não pode ser por nada, vem
cá vamos conversar.
Munhoz era um homem alto e meio gorducho, a criatura
mais doce de toda a Blue Birds.
- É só mais uma das minhas crises existenciais
logo passa.
De repente ouvi o barulho da nossa campainha
interna informando que meu pedido estava pronto.
- Eu tenho que ir meu pedido está pronto – disse
para Munhoz em quanto saia da cozinha.
Peguei meu pedido e levei para a mesa 20, a mesa de Frederico.
Estava entregando os pratos quando ele iniciou mais uma conversa.
- Tem visto alguém daquele tempo?
- Até hoje não tinha encontrado com mais ninguém.
- Fiquei feliz em te ver.
- Não sei por que eu não consigo acreditar nisso?
– perguntei com sinceridade.
Ele sorriu, e depois soltou uma breve gargalhada.
- Qual é Anne? As pessoas crescem, não sou mais o
imaturo Fred do primeiro ano do ensino médio.
- Pode ser que não. Vão querer mais alguma coisa?
- Acho que não.
- Está bem – me virei e fui anotar o pedido da
mesa ao lado.
***
Todos os dias eu repensava meus atos errôneos do
passado, lembrava de ter abandonado a faculdade e meus pais. Lembrava de ter
acreditado no amor puro e verdadeiro de um veterano metido a médico que estava
no seu último ano de medicina, em quanto eu estava no ultimo ano de Letras.
- Nós temos um futuro brilhante juntos Anne! – ele
dizia um pouco bêbado em quanto entravamos no apartamento dele após nossa
formatura.
- Eu não posso passar a noite com você Henri.
- Por que não? Achei que a gente namorasse. –
disse em deboche.
- Sim, mas meus pais vão ficar preocupados.
- Quantos anos você tem afinal? 14? Achei que
minha namorada tivesse 21.
- Já chega Henri, eu vou embora te ligo amanhã
está bem?
- Como quiser. – disse nervoso batendo a porta em
meu rosto.
Suspirei e repensei se ele era mesmo o homem da
minha vida. Fui para estação e peguei o trem. Sentei-me no ultimo vagão e
comecei a pensar sobre a vida. Quando acabei o ensino médio tudo parecia tão
simples, minha vida já estava tão predestinada e tudo tão definido. Primeiro eu
disse que faria engenharia para meus pais, mas na hora de assinalar a opção do
curso marquei Letras ignorando todos os avisos de que não iria ter um futuro
muito promissor escolhendo aquela opção. Mas, Letras sempre foi minha paixão eu
tinha verdadeiro encanto pelas palavras, por leitura e seus derivados então
resolvi seguir meu coração.
Em 3 meses de faculdade conheci Henri, um metido
estudante de medicina que gostava de ler poemas e contos românticos no fundo da
biblioteca, bem perto de onde eu me sentava. Não pude deixar de notá-lo logo no
primeiro dia que o vi, um homem tão lindo todo de branco lendo um livro de
Emily Brontë com certeza chamaria a atenção de qualquer amante da leitura. O
encarei por alguns segundos, ele logo percebeu me olhou pela primeira vez com
aquele lindo par de olhos azuis.
- Gosta das irmãs Brontë ?
Corei, e sorri completamente sem graça.
- Na verdade sei pouca coisa sobre elas, mas me
encanta o morro dos ventos uivantes apesar de não ter sido uma leitora assídua
de seus capítulos, o abandonei logo depois da metade.
Ele sorriu.
- Sente-se do meu lado eu vou te ajudar a decifrar
os mistérios dessa história, é meu livro de cabeceira.
Peguei meus livros e me sentei ao lado dele que
começou a fazer desenhos e escrever palavras chaves do livro em uma folha em
quanto me explicava cada detalhe. Depois ele me convidou para tomar um café e
conversamos sobre a faculdade e nossos planos de vida.
- Por que você faz letras?
- Sempre tive um encantamento inexplicável por
literatura.
- Entendo.
- Sei o que todos falam que irei passar fome e
afins, mas é o que eu amo.
- É bonito o que você faz, seguir o coração é para
os fortes – disse dando um gole em seu café.
- E você por que faz medicina?
- Interesse familiar, praticamente me obrigaram a
fazer medicina.
Dei risada.
- Mas, você ao menos gosta dessa profissão?
- Sim sim, eu acho maravilhoso poder ajudar as
pessoas.
Conversamos um pouco mais e ele logo me convidou
para ir ao cinema na próxima sexta. Eu aceitei e quando sexta feira chegou
estava no cinema vendo uma comédia romântica ao lado de Henri.
Após um mês entre encontros casuais e beijos
escondidos na biblioteca ele enfim me pediu em namoro. Estávamos
na beira da piscina da chácara dos meus pais quando ele se sentou ao meu lado e
alisou meu rosto com a ponta dos dedos.
- Seus pais acham que somos namorados? – disse de
uma forma que me deixou em dúvida se era uma pergunta ou uma afirmação.
- Eu não sei bem, mas eu quase nunca trago rapazes
aqui então... Não me responsabilizo pelo o que eles estão pensando.
Henri riu mostrando os lindos dentes brancos que
ele tinha.
- Eu também não me responsabilizo por isso. –
disse apontando para a piscina.
- Isso o que?
Ele me beijou com força me fazendo cair na piscina
com ele caindo logo por cima. Afundamos com tudo e caímos sentados no fundo da
piscina quando ele mergulhou e pegou algo azul. Como nadar nunca fora meu
forte, logo fiquei sem ar e não consegui ver o que era, voltei a superfície
ofegante em quanto tentava recuperar meu ar.
- Você aceita namorar comigo?
Disse abrindo a coisa azul que o vi pegando no
fundo da piscina o que percebi ser um estojo de aliança.
- C-claro que aceito – disse gaguejando o que o
fiz sorrir.
- Eu te amo Anne.
- Eu te amo Henri – disse o beijando.
Um ano depois estávamos pensando em morar juntos.
E Henri prometia grandes coisas.
- Nossa vida será maravilhosa Anne, você não vai
se arrepender.
- Eu não sei Henri, não sou muito a favor do que
um casal faz quando esta morando junto, mas não são casados.
Ele riu.
- Você me encanta sabia? – e me deu um longo
beijo.
Resolvemos ficar noivos, e continuar morando cada
um na sua casa.
Era meu ultimo ano na faculdade de Letras, e o
ultimo semestre dele que não via a hora de se tornar um médico formado. A
formatura dele foi linda eu observava cada coisa sonhando com a minha própria
formatura que estava por vir.
- Nós temos um futuro brilhante juntos Anne! – ele
dizia um pouco bêbado em quanto entravamos no apartamento dele após a
formatura.
- Eu não posso passar a noite com você Henri.
- Por que não? Achei que a gente namorasse. –
disse em deboche.
- Sim, mas meus pais vão ficar preocupados.
- Quantos anos você tem afinal? 14? Achei que
minha namorada tivesse 21.
- Já chega Henri, eu vou embora te ligo amanhã
está bem?
- Como quiser. – disse nervoso batendo a porta em
meu rosto.
Suspirei e repensei se ele era mesmo o homem da
minha vida. Fui para estação e peguei o trem.
No outro dia disse para meus pais que íamos nos
casar.
- Mas, Anne vocês são muito novos e você nem
acabou a faculdade.
- Estou no ultimo ano e...
- Ultimo ano? Eu achei que engenharia fosse mais
tempo – disse meu pai me olhando com uma expressão de dúvida.
- Eu não faço engenharia eu faço Letras.
- Letras? Eu pago para você fazer Letras? Era para
você fazer Engenharia eu pago uma das faculdades mais caras do país para você
fazer Letras?
- Mas, papai esse era o meu sonho.
- Você não vai se casar com esse cara nem terminar
essa maldita faculdade, esta proibida dos dois.
- Eu posso até sair da faculdade, mas não posse
deixar Henri eu o amo.
- Você não pode tratá-lo como prioridade minha
querida filha – disse minha mãe se aproximando. – E você senhor Fernando irá
pagar sim a faculdade de sua filha, ela já está no ultimo ano que diferença vai
fazer, ela ainda será formada e ainda terá uma faculdade no seu currículo.
- Se ela ainda continuar com essa idéia de se
casar com ele, eu paro de pagar.
- Mamãe e papai eu amo vocês, me desculpem por
isso mas então eu vou sair da faculdade, por que eu não quero me separar dele.
- Como quiser Anne Marie , como quiser! – disse
meu pai bufando de raiva em quanto fazia algumas ligações de seu celular.
- Fernando não faça isso, ela jovem comete erros.
– disse minha mãe tentando tirar o celular das mãos dele que já estava
conversando com o financeiro da faculdade. Sai de lá, fui até meu quarto peguei
algumas roupas e meu tablet.
- Anne você não precisa fazer isso – disse minha
mãe encostada na porta do meu quarto.
- Não quero fazer isso, eu amo demais vocês dois.
Mas, papai tem que perceber que não sou mais uma criança e que posso me
sustentar sozinha e construir minha própria vida sem a ajuda dele e do seu
dinheiro. E se eu não fiz isso antes foi por que ele mesmo não deixou.
- Você promete que irá me ligar?
- Todos os dias mamãe – a abracei chorando.
Sai de casa peguei um trem e logo estava batendo
no apartamento de Henri, que o abriu com o rosto inchado e a pior expressão que
alguém podia fazer no mundo.
- Pelo amor de Deus Anne que horas são?
- Dez da manhã de sábado.
- Eu estou de ressaca chegamos eram mais de três
horas e você vem me acordar agora? – disse num misto de raiva e tristeza.
- É, eu também te amo Henri – disse beijando a
testa dele e entrando no apartamento.
Ele fechou a porta e também entrou, foi para a
cozinha e começou a fazer café, deixei minha bolsa na pequena sala e fui para a
cozinha junto com ele.
- Eu tive a conversa com meus pais.
- Que conversa? – perguntou colocando o café no
fogo.
- Eu disse que íamos nos casar.
- Estava na hora de contar pra eles.
- É eu sei, mas não tive muito sucesso.
- O que houve?
- Eu tive que sair de casa Henri, estou quase sem
dinheiro e sem um lugar pra ficar. E pra piorar não vou mais me formar.
- O que? Como assim não vai se formar?
- Meu pai vai parar de pagar a faculdade e já
trancou minha matricula.
- Você pode arrumar um emprego e pagar.
- Eu pensei nisso, mas meus pais nunca me deixaram
trabalhar antes, eu quase não tenho curso algum por que meu pai sempre foi do
tipo que disse que mulheres não precisam estudar ou trabalhar apenas serem
sustentadas pelo marido e além do mais, que emprego eu ia arrumar com 21 anos
sem nenhuma experiência que conseguisse pagar a mensalidade daquela faculdade a
mais cara do país?
- Bom, Anne eu posso pagar pra você... Eu faço
residência em um hospital e meus pais têm bastante dinheiro eu posso pagar pra
você só falta um semestre mesmo e você sabe que pode morar comigo já te disse
isso.
- Morar com você eu aceito, por que não tenho
escolha – disse me aproximando dele e fazendo carinho em seu rosto – mas, não
posso te deixar pagar minha faculdade, deixa isso pra lá... Depois eu arrumo um
emprego e faço alguns cursos.
- Mas, e o seu sonho Anne?
- Agora o meu sonho é passar o resto da vida com
você.
Ele sorriu e me beijou com vontade.
- Me desculpe por ontem, eu fui grosso com você.
- Você estava bêbado.
- Sendo assim... Você vai ficar aqui em casa e eu
vou trabalhar e te sustentar do jeito que o seu pai disse uma mulher merece.
Eu ri da situação.
- Claro que não eu vou arrumar um emprego e sempre
deixar esse apartamento um brinco.
- Será como se já estivéssemos casados!
- Não exatamente por que não vamos fazer tudo que
um casal faz e você sabe.
- Claro que sei, a gente não vai brigar o tempo
todo por exemplo – ele riu – Serão só beijinhos e beijinhos – disse me enchendo
de beijos.
- Não só isso, mas isso também.
Ele riu.
- Eu sei das suas exigências e não vou te forçar a
nada, mas você mesma vai querer. Eu sei – disse piscando e mordendo meu lábio
inferior.
- Não vou mesmo. – disse rindo e me afastando.
Alguns meses se passaram e eu arrumei um emprego
de garçonete no Blue Birds, uma lanchonete bonita e cara onde infelizmente
muitos alunos da Freichweek faculdade onde eu estudava iam, mas graças a Deus
nunca fui maltratada nem insultada por eles pelo contrário eram sempre gentis e
me perguntavam como Henri estava. Quem não gostava muito da situação era o
próprio Henri.
- Eu disse que te sustentaria não sei por que você
insiste em trabalhar de garçonete.
- Amor, eu te amo. E não quero que você fique me
sustentando, só quero que me ame também.
- É, mas eu não quero que você trabalhe lá.
- Então está tudo explicado, você tem vergonha de
mim.
- Não é isso.
- É sim, tem vergonha dos comentários que devem
fazer na faculdade sobre mim, você o senhor rico , bonito e popular noivo de
uma garçonete.
- É mais ou menos isso o que falam mesmo, e você
não vê que tem que sair de lá?
- Achei que se importasse comigo.
- Eu também pensei mesmo de você e nem por isso
você deixou o emprego.
- Você não parou pra pensar nem um momento que
também é frustrante pra mim?
- Você parou pra pensar como seria pra mim?
- Eu abandonei meus pais e todas as minhas
mordomias para estar com você.
- Então não sei por que não consegue abrir mão de
apenas mais uma coisa
- Por que você não abriu mão de nada pra mim,
ficar comigo é cômodo pra você, não te traz transtorno nenhum. Ainda é formado,
ainda faz sua residência, tem seu carro bom, o orgulho dos seus pais.
- Você tem Anne aquilo que escolhei ter, não tenho
culpa se não foi tão sabia nas suas escolhas quanto eu.
- Como ousa dizer isso, eu fiz por que te amo!
- Eu também te amo e mesmo assim ainda tenho tudo
o que quis.
- Você só pensa em você.
- E você deveria pensar mais em você. Saia do emprego e
deixe que eu te sustento e se foque mais pensar em você.
- Eu vou pensar em mim, mas bem longe daqui.
Peguei minhas coisas, graças a deus o dinheiro que
tinha desde que sai da casa dos meus pais estava intacto, e ainda tinha alguns
meses de pagamento guardado afinal quase nunca eu comprava algo para casa,
Henri bancava tudo.
- Você esta sendo infantil.
- E você um egoísta que só vê o próprio lado e
ainda por cima tem vergonha da mulher que diz amar.
- Eu não sou egoísta só corro atrás dos meus
objetivos ao invés de deixá-los de lado por qualquer coisa.
- Você acha que eu e você somos qualquer coisa?
Então realmente eu fiz a escolha errada vindo ficar com você.
- Se é o que você acha.
O olhei incrédula, ele nem tentou me fazer mudar
de opinião. Peguei minhas coisas e estava saindo de casa quando ele disse:
- Vem aqui Anne deixa eu te dar algum dinheiro pra
você sobreviver uma semana que é o tempo que você vai ficar longe de mim.
Ignorei o que ele disse e sai do apartamento dele,
carregando poucas roupas e meu sofrimento. Arrumei um apartamento super pequeno
e bem longe do dele que ficava na zona “nobre” da nossa cidade. Comprei alguns
livros e sempre que podia estudava para conseguir alguma bolsa de estudos, mas
tinha que ser integral então ficava difícil. Eu trabalhava duro no Blue Birds,
pegando quantos turnos me oferecessem para conseguir juntas um bom dinheiro e
sair do pequeno apartamento. Nos meses que se passaram Henri ia frequentemente
ao Blue Birds, uma vez foi com um buquê de flores , mas não para mim e sim para
uma moça loira que estava namorando e fazia questão de me mostrar. Atualmente
continuo na Blue Birds, ainda como garçonete , consegui fazer alguns cursos e
estou procurando um novo emprego, mas com a Blue Birds ocupando todo o meu
tempo fica um pouco difícil.
***
Peguei minha caixinha ela era branca com flores
rosa lá dentro tinha minhas lembranças, fotos significativas, cartas e tudo que
me lembrava da minha época de escola. Em quanto a olhava lembrei que sempre que
ficava muito triste eu me sentava, respirava fundo e começava a recriar meu dia
em minha mente, alterando as coisas ruins que tivessem acontecido por coisas
boas. Eu era muito criativa e criava várias histórias, então resolvi aproveitar
aquela tarde para voltar a fazer o que eu fazia tanto quando era mais nova,
inventar momentos para proporcionar minha alegria. Fechei meus olhos e nem
acreditei como foi fácil criar uma breve história.
“Eu estava sentada em um bar, bonito mas, nada
muito chique. Eu pedi uma dose de vodka e um rapaz ao meu lado pareceu
protestar minha atitude o olhei com curiosidade e ele disse: - Me parece muito cedo para beber. Não
pude deixar de rir. – E quem é você
afinal? – Alguém que quer entender porque uma mulher tão bonita teria motivos
para beber tão cedo. – Acredite você não ia querer saber! Entre uma
conversa e outra acabamos nos beijando”
Tinha sido tudo tão bom, tão real... Cada toque,
cada cheiro... Nem eu mesma me lembrava que conseguia ser tão boa em imaginar
coisas.
Arrumei meu pequeno apartamento, revisei alguns
conteúdos pois teria um vestibular na próxima semana e me deitei para descansar
um pouco e para minha surpresa sonhei com o rapaz que tinha que imaginado mais
cedo, o que me espantou por que ele tinha sido uma criação minha nunca tinha
visto ninguém como ele em lugar nenhum.
“Ele me olhou e sorriu. – Ora Ora vejam só quem esta aqui! Disse sorrindo.
Ele era alto, tinha pele morena os olhos verdes e
um cabelo cacheado que dava um aspecto angelical para ele. – Você está me seguindo ! Disse também
rindo. – Eu não, você quem está! Sempre
chega depois nos lugares onde eu estou. Dessa vez rimos juntos. – É pode ser que você esteja certo.
Conversamos um pouco e logo estava em seus braços novamente, ele era tão
encantador e inteligente... Era calmo, ouvia cada detalhe da minha vida que eu
contava sem entusiasmo, sempre me encarando sem nem ao menos piscar com o par
de olhos verdes mais atenciosos do mundo inteiro. Ele me abraçou bem forte e
disse: - Agora você não está mais
sozinha, você tem a mim. Alisei o rosto
dele. – Isso pra mim já é o bastante.
Ele sorriu.”
De repente senti certo calor em meus olhos ,
quando os abri notei ser o sol me alertando que tudo não havia passado de um
sonho. Suspirei e me afundei em meu travesseiro. Depois de poucos minutos meu
celular despertou com a costumeira música irritante que eu sempre esquecia de
mudar. O desliguei e tomei um banho rápido, vesti meu uniforme e corri para a
Blue Birds.
O dia de trabalho foi corrido, mas passou rápido
afinal eu só ia ficar um turno, logo estava em casa e pronta para imaginar o
lindo rapaz dos olhos verdes, e assim o fiz.
“–
Isso não é bom. Ele me olhou confuso. – O que?
- Eu estar ficando viciada em você, eu
pensei em você e no que a gente ia fazer quando se encontrasse o dia inteiro em
quanto trabalhava. Ele sorriu mostrando aquele belo sorriso tão encantador.
– Eu também penso em você.
Comecei a chorar
compulsivamente. – O que foi? O que você tem? – Você não é real, nada disso é real, não estamos em um belo parque
rodeado das mais lindas flores, e você não pensou em mim por que você nem ao
menos existe você é invenção da minha mente. – Eu não sou só uma invenção da
sua mente, e mesmo se eu fosse cada um acredita na sua própria verdade, se você
quiser acreditar que eu sou real, eu serei real pelo menos pra você. O
abracei com força me deixando levar pelo momento. – Qual é o seu nome? – Nick.
Nickolau. – Olá Nick, sou a Anne.
– Prazer em te conhecer de novo Anne,
agora vamos nos divertir sem pensar no depois? – É o que eu mais quero.
Fomos a um parque de diversões, andamos em
montanhas russas, comemos algodão doce, ficamos parados no topo da roda gigante
e trocamos vários beijos cheios de amor.”
Trabalhar estava ficando cada vez mais difícil,
estudar então pior. Eu só pensava em Nick e em como era louco eu estar
apaixonada por uma invenção da minha mente, até onde a carência poderia chegar?
Bom, se tudo aquilo era apenas carência resolvi sair um pouco. Convidei Louis,
um rapaz que trabalhava na livraria onde eu sempre ia e acabei pegando amizade.
Louis era fofo, tinha cabelos louros jogados para trás e lindos olhos cor de
mel. Ele aceitou com um belo sorriso quando o convidei para ir ao cinema.
Sentamos e assistimos a um filme sobre exorcismo.
- Pensei que mocinhas tivessem medo de filmes como
esse... – Disse rindo ao sairmos da sala de cinema.
- Talvez eu não seja uma mocinha – disse rindo
junto com ele.
- E o que você é? – perguntou me olhando
fixamente.
- Eu não sei, mas você poderia me ajudar a
descobrir – disse me inclinando sobre ele para beijá-lo, percebi uma breve
hesitação da parte dele, até que por fim ele finalmente me beijou o que me fez
voltar a respirar, afinal eu tinha ficado tensa com medo de levar um super fora.
- Anne isso... Ér... – disse depois de nos beijarmos.
O beijo tinha sido estranho, fraco e sem nenhum sentimento o que me
deixou um pouco frustrada tinha certeza que ele tinha dado todos os sinais,
brincadeirinhas, brechas e perguntas com duplo sentido, mas parecia que ele não
tinha interesse nenhum sobre mim.
- Não se preocupe com isso, podemos agir como se nada tivesse
acontecido – disse triste e comecei a caminhar.
Ele me segurou e me deu um beijo na testa depois alisou meus cabelos e
disse:
- Eu te acho linda Anne, gosto
da sua voz... Do seu cabelo, dos seus olhos castanhos e tristonhos. Gosto de
ouvir você reclamar de cada aspecto da sua vida, gosto quando ri, quando
critica um filme, gosto da sua visão do mundo, gosto da sua criatividade, amo ficar
perto de você e amo os livros que você compra na livraria, fico feliz quando te
vejo entrar e triste quando te vejo sair.
Abri um lindo sorriso.
- E isso quer dizer?
- Isso quer dizer que eu te admiro demais, você pra mim é o tipo de
mulher perfeita. Mas, o caso Anne... É que..
- Não precisa se explicar – me virei triste novamente, pensando que
tudo aquilo não passava de um discurso bobo para no final ele me dar um fora.
- Anne você é o tipo de mulher que eu queria ser, se pudesse.
O olhei sem entender.
- Eu sou gay.
Fiquei branca, bege, verde, roxa e de todas as cores possíveis.
- M-me desculpe Louis, eu não sabia isso nem passava pela minha cabeça.
- Me desculpe você, a gente já tem um tempo de amizade para eu nunca
ter te dito nada, e tendo em vista todo amor que tenho por você e em como eu
demonstro é normal você ter entendido errado, só espero não estar te magoando.
- Não eu só... – suspirei – É uma longa história.
- Conheço um bom lugar para ouvi-la.
Fomos para uma cafeteria compramos dois chocolates quentes e eu comecei
a contar. Contei tudo, desde o meu quase casamento com Henri até meu amor por
Nickolau.
- Nossa Anne, eu ....
- Eu sei que sou louca – disse brincando com as embalagens de açúcar
mascavo que estavam na minha frente – Mas, isso é algo viciante , e eu o amo
não consigo parar de imaginar ele, e pensar nele.
- Anne eu não te acho louca, você só é uma pessoa que sofreu muito nova
e estava desesperada pra encontrar algum refúgio se imaginar ele te faz bem,
não vejo por que não continuar imaginando.
- Mas, eu tenho medo de sofrer...
- Anne, ele não é real, não vai te trair nem nada do tipo.
Rimos.
- Mas, eu acho que sou velha demais para ter amigos imaginários.
- Bom no seu caso esta mais para “namorado” imaginário.
Suspirei.
- É, que seja não muda o fato de uma mulher de 25 anos não poder em um.
Rimos.
- Em quanto te fizer bem continue, um amor é sempre bom não importa o
rumo que ele tiver depois. E fora que um dia você vai encontrar o seu Nickolau
de verdade, confia em mim.
Sorri e o abracei.
- Obrigada Louis, por tudo. O beijo o conselho.
- Não acho que tenha te beijado da forma que uma mulher tão doce como
você mereça.
Ele se inclinou e me beijou. E dessa vez realmente foi diferente, ele
me deu um beijo delicado e cheio de carinho, alisava meu cabelos devagar em
quanto me beijava e depois do beijo me abraçou bem forte.
- Obrigada Louis.
- Conte comigo sempre que precisar Anne.
A caminho do meu apartamento Louis me disse que foi expulso de casa por
seus pais quando descobriram que ele era gay, então ele entendia um pouco meu
lado.
- Anne, procure seus pais, você não esta mais com Henri nem fazendo
Letras, não tem por que eles não te aceitarem de volta. Isso pode te ajudar a
um novo recomeço.
- É, fazer as pazes com eles seria perfeito, eu converso com minha mãe
de vez em nunca e parece que eu nunca percebi o quanto eles fazem falta.
Olhei no meu celular e eram oito horas da noite.
- Se importa de ir comigo até lá?
- Claro que não Anne.
E assim fomos no carro de Louis. Quando cheguei em casa senti um leve
frio na barriga e hesitei na hora de descer do carro.
- Anne, são seus pais. Eles te amam e só queriam o seu bem.
- E estavam certos em todos os aspectos – disse com sinceridade.
Desci do carro e fui ao encontro de meus pais. Quem abriu a porta foi
minha mãe, que ao me ver começou a chorar.
- Anne, minha querida eu tentei te ligar tantas vezes, fiquei tão
preocupada faz quase 2 anos que você não me liga e não da sinal de vida minha
filha.
- Ah, mamãe me perdoa – disse chorando – eu não vivo, vegeto nem tenho
tempo de pensar em nada eu só trabalho.
- Minha filha você esta tão magra, entre vamos comer alguma coisa. –
disse dando espaço para eu entrar – E quem é esse belo rapaz?
- Esse é Louis.
- Olá Louis seja bem vindo em nossa casa.
- Obrigada senhora.
- Venham eu fiz um bolo de chocolate do jeito que Anne gosta, parecia
que eu estava adivinhando!
Rimos.
Com minha mãe seria fácil, sempre foi. O problema seria meu pai.
- Mamãe onde esta o papai? – perguntei dando a primeira mordida no
bolo.
- No escritório filha.
Resolvi deixar meu bolo e ir ao encontro de meu pai. Entrei no
escritório dele após dar duas batidas na porta.
- Papai?
- Anne?
- Sim, me desculpe por tudo. O senhor e a mamãe estavam certos o tempo
inteiro.
- É essa mágica de ser pai você está sempre certo sobre tudo.
Rimos.
O abracei.
- Estou feliz de te ver aqui Anne.
- Estou surpresa por não ouvir um sermão.
- Acredite, eu tenho um. Tive 2 anos para criá-lo, mas agora que está
aqui isso é a única coisa que importa.
Choramos juntos, eu estava tão arrependida por ter deixado meus pais
por coisas tão levianas, eu tinha perdido dois anos de amor e carinho para
viver triste e isolada. Que tipo de animal eu era?
Aproveitei o resto da noite com meus pais e Louis, me despedi e voltei
para casa com a promessa de que voltaria a morar com eles.
- É a melhor coisa que você faz – disse Louis quando entramos no carro.
- Eu não sei, fico feliz por que vou ter como pelo menos tentar repor o
tempo perdido mas, e minha independência.
- Você já sabe que pode se virar, já está de bom tamanho.
- É pode ser.
- Qual é? seus velhos não são eternos, aproveite em quanto ainda tem os
seus.
- Como assim Louis os seus?
- Sim, morreram em um acidente de carro há dois anos. Mas, fiquei
sabendo apenas um ano depois.
- Eu sinto muito Louis.
- Se realmente sente aproveite cada minuto ao lado dos seus.
- É o que eu vou fazer!
Chegamos em casa e convenci Louis a dormir comigo. Dormimos abraçados
do jeito que um pai e uma filha dormiriam e acordamos de manhã bem cedinho,
estava animada para arrumar minhas coisas para voltar para casa de meus pais,
mas estava decidido ainda ia trabalhar na Blue Birds. Louis cantava todas as
músicas que meu som tocava e até rebolava um pouco e pouco a pouco fui
percebendo que eu sempre soube que ele era gay, só não tinha notado que já
sabia. Eu não tinha muita coisa então em pouco tempo já tinha arrumado tudo,
fui para casa de meus pais e Louis passou o dia conosco.
- Louis é realmente um jovem encantador – disse minha mãe em quanto a
ajudava a lavar louça.
- Sim, mas é gay.
Mamãe riu.
- Sinto muito por isso minha filha.
- Ah, não sinta. Eu não gosto de Louis com esses olhos.
- Não sei por que eu sinto que sim.
- Mamãe ele é gay! – disse rindo.
- Mas, você não até onde eu sei.
- Sim, eu não sou... mas...
- Qual foi a ultima vez que um homem se importou com você como Louis?
Pensei em Nick, mas óbvio que eu não poderia contar para minha sobre
isso.
- Faz algum tempo.
- Então...
- Então nada mamãe, somos amigos.
- Veremos até quando.
- Mamãe! – disse rindo.
- Coração de mãe não se engana, vocês ainda vão estar juntos.
- Estamos sempre juntos.
***
“- Por que você me deixou?
Arrumou companhia melhor? – Nick eu
te amo, você não entende isso? – O que eu não entendo é você ter ficado tanto
tempo sem me procurar. – Eu tinha que tentar te esquecer. – Por que? – Por que
isso é loucura, é insano! – O amor não é uma loucura. – Eu me apaixonar por um
cara que eu mesma inventei é. – Pelo menos sou perfeito pra você. – Perfeição
cansa e isso nunca vai dar certo. - Anne
eu te amo. - Só me amar não é o
suficiente Nickolau. - Mas, pode ser
um grande ponto de partida.
Ele me envolveu em seus braços com seu jeito acolhedor e maternal, logo
senti aquele torpor tão comum que só sinto quando Nick me toca.”
Acordei com Louis me sacudindo em tom de brincadeira e rindo, mostrando
seu belo sorriso em quanto me olhava com seus olhos cor de mel.
- Bom dia bela adormecida – disse para mim.
O olhei ainda sonolenta, sem vontade de protestar.
Murmurei algo parecido com um “bom dia” o que o fez rir.
- O que vai fazer hoje? – perguntou animado.
- Trabalhar – disse sem animo algum.
- Mas, hoje é sexta!
- Sim e pessoas trabalham, e comem na sexta sabia? – perguntei rindo e
me sentando na cama em quanto tentava pentear meus cabelos com meus dedos. –
Por que?
- Eu queria sair hoje.
Louis estava morando na casa de meus pais comigo,
minha família o tratava como um irmão mais velho que eu não tive. Louis era
extremamente amável o que fez rapidamente todos gostarem dele.
- Onde você gostaria de ir?
- Em algum lugar que nos faça esquecer do mundo,
vamos?
- Talvez, se meu chefe deixar eu pegar apenas um
turno.
- Qual é? Você sempre trabalha em um milhão de
turnos ele não tem como não deixar.
- É pode ser.
- O que você tem Anne?
- Discuti com Nickolau – disse triste – Isso pode
parecer bobagem pra você, mas me machuca.
- Se te machuca não é bobagem pra mim – disse me
abraçando – Eu gosto de você Anne.
- Eu também gosto Louis – disse afundando minha
cabeça no ombro dele.
Ele sorriu, e de repente vimos alguém entrando. Ao
olhar melhor vi ser minha mãe. Ela emitiu uma tosse forçada e disse rindo.
- Estou atrapalhando algo?
- Mamãe! – disse rindo e me afastando de Louis.
Louis corou e me olhou sem entender.
- Eu não entendi essa – disse me olhando e rindo.
- Nem queira Louis – disse para ele e depois me
voltando a minha mãe disse:- E a senhorita?
- Bem, eu vim perguntar se vocês não vão tomar
café.
- Ah, sim sim eu estou faminta, só vou tomar um
banho, daqui a pouco vou pra Blue Birds.
- Esta bem, você vem Louis?
- Sim senhora. – disse rindo e saiu do quarto.
Eu realmente gostava muito do Louis, o suficiente
para ingressar um relacionamento. Claro, se ele não fosse gay e eu não tivesse
Nickolau.
***