CRÍTICA DO FILME "ENTRE IRMÃS" COM MARJORIE ESTIANO E NANDA COSTA
Escrito por
Viviane Oliveira
Publicado em
Marjorie Estiano e Nanda Costa interpretam mulheres que mostram diferentes formas de força no novo longa de Breno Silveira.
NÃO POSSUI SPOILERS
Em "Entre Irmãs" conhecemos as irmãs Luzia (Nanda Costa) e Emília (Marjorie Estiano) são irmãs que vivem na pequena Taguaritinga do Norte, ao lado da tia Sofia (Cyria Coentro), que lhes ensinou o ofício de costureira. Enquanto Emília sonha em se mudar para a cidade grande, Luzia se conforma com a realidade ao mesmo tempo em que lida com as dificuldades de ter um braço atrofiado, por ter caído de uma árvore quando criança. A vida destas três mulheres muda por completo quando o cangaceiro Carcará (Júlio Machado) cruza seu caminho, obrigando-as a costurar para o bando que lidera.
A interação entre Estiano e Costa é muito sincera e natural, mesmo que tenham dividido pouco tempo em tela. O longa foi filmado de forma cronológica, então estiveram juntas no início da história e na conclusão, dessa forma as atrizes acompanharam o amadurecimento de suas personagens e colocaram nessa relação. Separadamente, ambas mostram mulheres extremamente fortes e singulares enfrentando cada um de seus obstáculos pessoais. Enquanto Luzia é tirada de sua zona de conforto ao se unir ao bando de cangaceiros e aprende uma nova forma de enxergá-los, Emília descobre que seu "mundo ideal" pode ser sufocante e solitário e ela precisa se adequar a ele:
A Emília pra mim é linda, ela é essencialmente integridade. É uma mistura de força e delicadeza, ao mesmo tempo, porque a força a gente associa ao que é mais impositivo e ela contorna tudo, ela absorve tudo que aparece, todas as frustrações, os obstáculos, os impedimentos... Ela absorve aquilo e ela distingue, ela separa o que é dela e o que é do outro, o que faz sentido, o que é natural do relativo a natureza.Voltando ao sertão, eu acho que essa vivência no sertão é a essência delas, foi fundamental pra mim ter vivido isso antes de ir pra capital porque a diferença ficava muito gritante, revela Marjorie Estiano.
O longa é baseado no livro "A Costureira e o Cangaceiro" da pernambucana Frances De Pontes Peebles que, apesar de se passar na década de 1930, aborda diversos temas como o homossexualismo, divergências de ideias e feminismo. Nos primeiros minutos de filme todas essas questões parecem imagináveis, mas, principalmente com os personagens de Letícia Colin e Rômulo Estrela, elas vêm a tona. Isso mostra o quanto certos preconceitos são tão fortes que, infelizmente, são atemporais.
FOTO: Manuela Scarpa / Brazil News / O fuxico
A direção de fotografia de Leonardo Resende Ferreira impressiona com utilização de cenas aéreas para mostrar as longas caminhadas da tropa de cangaceiros, utilizando tons avermelhados e marrons - mas reforçando o azul do céu -, enquanto que os trechos na cidade grande possuía tons mais sóbrios, próximos da esterilidade. Essa, sem dúvida, foi a melhor forma de homenagear a riqueza do povo brasileiro.
Eu comecei minha carreira estudando direção de fotografia pra cinema, inclusive fora. Acho que esse tempo que eu passei estudando fora foi quando me apaixonei pelo Brasil de verdade porque eu acho a distância faz a gente entender um pouco quem a gente é. Eu queria muito essa coisa do épico, eu queria muito que você sentisse isso. Eu to um pouco chateado com o cinema mundial onde você já não senta e vê um filme que você se veja e se empolgue, confessa Breno Silveira.
Breno Silveira, o diretor que consegue arrancar lágrimas de qualquer um, atinge seu objetivo mais uma vez. Em seu primeiro filme com protagonistas feministas ele homenageia uma cultura, as mulheres brasileiras e reforça como a distância e o tempo pode ser superado pelo laço entre irmãs.
Nota: 4/5
Distribuição: Sony Pictures
Estreia: 12/10/2017