(Des)conhecer você
Escrito por
Isadora Bispo
Publicado em
"Nós nunca mais vamos nos ver!". Eu tive certeza. Você segurou mais forte minha mão e me puxou pra perto. Era difícil escutar com a música alta. "E quem disse?", foi o que você me perguntou enquanto eu tentava conter cada lágrima que ameaçava pular pra fora de mim. Eu precisava ir embora, e foi só o tempo de entrar no carro pra eu desabar. Minhas amigas sabem. Mas sim, aquela foi realmente a última vez. Você tinha algo importante pra me dizer, então me lembro bem da última coisa que eu te disse: "Me manda mensagem". Sim, essa mesmo, a que nunca chegou. Sem conversa. Sem explicação. Sem adeus. Só vários "E se?". E eu nunca descobri o que você tinha pra me falar.
Não é estranho? Como é possível desconhecer alguém tão fácil? Como n-ó-s pudemos nos desconhecer tão fácil? Eu me lembro muito bem das primeiras semanas e de como aquela droga acabou comigo. De como foi estranho e terrível saber de tudo sobre o teu dia e logo depois, de uma hora pra outra, não ter mais nenhum espaço nele. Porque mesmo depois de ir embora, você continuou aqui. Em toda parte, pra falar a verdade. Você era aquele pensamento inconveniente que invadia os meus primeiros pensamentos da manhã, aqueles de quando você ainda não acordou totalmente e não se dá conta de nada, até se lembrar em que dia da semana está.
E eu não tenho nem sequer ideia de onde você está agora. E essa é a parte mais estranha. Saber que alguém com quem você se importava tanto está por aí em algum lugar no mundo com outro alguém fazendo qualquer outra coisa que não seja se lembrar de você. Eu não sei se você continua no mesmo emprego ou se ainda saí no mesmo horário. Se usa o mesmo perfume ou se ainda acorda de bom humor todas as manhãs. Você ainda mora na mesma rua em que me levou naquela noite com seus amigos? Aquela em que subiu comigo no teu colo enquanto a gente ria como loucos por causa do álcool? Você se lembra disso? Se lembra da lista que pensamos com todas as coisas que iríamos fazer juntos? Se lembra de como juramos de dedinho no bar aquela noite que iríamos à praia no feriado? Só nos dois? E de quando você nos prometeu vários amanhãs, mais até do que podíamos contar?
Antes nem tínhamos noção da existência um do outro. Éramos dois estranhos. Totalmente desconhecidos. Não havia nada entre a gente. Faculdade, mesmo bairro, trabalho em comum...nada. O engraçado é que é quase como se tivéssemos voltado pro início. Se não fossem as fotos e os momentos com nossos amigos, poderíamos dizer que nunca nem sequer existimos juntos. Mesmo depois de termos existido tanto. Mas agora é como se eu tivesse dado meia volta na estação e voltado pra casa naquele dia. Mas eu fiquei.
E eu juro que te apaguei de tudo, de cada uma das minhas redes sociais. Se alguém tentasse te procurar agora, não encontraria nada. Apaguei até o teu número e todos os milhares de prints com as nossas conversas que duravam horas e horas, as vezes noites inteiras. Criei outras histórias em cada um dos lugares que passamos juntos e me desfiz de todas as fotos que eu olhava um milhão de vezes no dia. Te apaguei de tudo, menos da memória. E ainda me pergunto muito em como pôde ter se perdido no tempo o que ontem mesmo foi tanto. O último instante em que eu e você fomos "nós". O momento em que passamos do "Você é tudo" pra "Hoje não é mais nada, só lembrança".