"Duna: Parte 2" alcança o título de maior ficção científica do século XXI
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Redação Acidamente Sensível
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"Duna: Parte 2" se beneficia de um universo bem estabelecido, muito por conta do seu anterior ter apresentado tudo que precisávamos saber, para que essa segunda parte fosse uma verdadeira continuação, sem ter que voltar em pautas políticas ou familiares, o longa entende que você como telespectador já está bem inserido nos acontecimentos. O que de fato funciona, pois o que pode se afirmar como a maior diferença entre as duas partes são seus ritmos. Enquanto o primeiro buscava um compasso mais devagar, a segunda parte tem uma cadência mais acelerada, sempre tentando fazer com que o público ficasse na ponta da cadeira para saber o que vem a seguir.
Tenho que admitir, não sou o maior fã da primeira parte de Duna. Considero sim um filme lindo de se ver e que possuía um universo interessantíssimo, mas, não foi o suficiente para me conquistar e ficar apaixonado pela história. Seu ritmo e o final sem conclusão me deixaram com uma sensação amarga, portanto, não sabia o que esperar desta continuação. Mas, somente nos primeiros vinte minutos da parte dois, já me via empolgado e imerso na história de Paul Atreides (Timothée Chalamet). Na história do segundo filme, Paul e sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson), estão abrigados com os Fremen, após as traições ocorridas no longa anterior. Ao serem aceitos por eles, ambos se veem na possibilidade de fazerem parte de uma profecia que pode mudar o destino de Arrakis. Agora, Paul Atreides precisa aprender a fazer parte da cultura dos nativos do deserto e convencê-los que pode liderá-los para libertar o planeta da tirania dos Harkonnen.
A partir dessa história, o filme não perde tempo com praticamente nada que possa causar algum efeito de enrolação ou comodismo. Mesmo que na primeira metade da continuação o diretor Denis Villeneuve use efeitos que já havia usado no antecessor, em nenhum momento o sentimento de mesmice surge. Todo deslumbramento e senso de descoberta estão no filme, é a partir do olhar épico e único de Villeneuve que somos apresentados novamente a esse mundo complexo. É possível afirmar que é difícil, para não dizer impossível, imaginar Duna sem o olhar do diretor francês. É impressionante como cada cena do longa é um quadro, como se a todo momento estivéssemos perdendo o fôlego com a beleza estonteante dos cenários e uma fotografia primorosa, se aproveitando de diversos planos diferentes e enquadramentos que conseguem falar mais sobre os personagens e a história do que os próprios diálogos. É sutil, mas ao mesmo tempo é épica, faz com que qualquer um que esteja vendo se impressione e mergulhe de cabeça no deserto de Arrakis.
A segunda parte de Duna é como se fosse a corrida que tanto esperávamos. Se o primeiro longa preparou todo o caminho, era de se esperar que o sucessor conseguisse percorrer a estrada sem problemas. Podem ficar tranquilos, o filme entrega isso e muito mais, principalmente por tratar do que podemos afirmar de vários momentos que já haviam sido plantados e que nesse filme, eles finalmente ocorrem. Tudo com uma perspectiva épica e grandiosa de Denis Villeneuve, que parece ter juntado tudo que há de melhor em sua filmografia, como “A Chegada” e “Blade Runner 2049”, e colocado dentro de Duna: Parte 2, com olhar ainda mais treinado e maduro. Um dos maiores méritos da produção é seu elenco estrelado. Todos os atores estão brilhantemente em tela, conseguindo convencer com seus personagens, sejam eles os mocinhos ou vilões. É possível destacar o trabalho de todos, mas é notório como Javier Bardem e Austin Butler superam qualquer expectativa e entregam os momentos mais convincentes durante todo o filme. Desde a fé inabalável de Stilgar, até a fúria e psicopatia de Feyd-Rautha, a segunda parte consegue trabalhar bem com a maioria dos seus núcleos e fazer com que nenhuma cena seja desperdiçada.
Uma das questões técnicas mais revigorantes do filme é sua trilha sonora composta por Hans Zimmer e a direção de fotografia comandada por Greig Fraser. O olhar que acredita no poder das imagens, e como elas podem transmitir sensações, desde grandeza até religiosidade, é quase que tudo que vemos em tela fosse palpável, mesmo sendo um ficção científica. Já na parte sonora, o filme também é um show à parte. Hans Zimmer consegue colocar toda identidade, melancolia e grandiosidade que Duna precisa, é como se fosse uma simbiose perfeita que engrandece tudo que estamos vendo, como a própria fotografia e até mesmo o design de produção.
O sentimento final que Duna: Parte Dois deixa é de que nossa espera e expectativas foram recompensadas. Se adaptar um livro tão denso como o de Frank Herbert é um quebra cabeça quase impossível de montar, é possível afirmar que Denis Villeneuve e companhia completaram o essencial para conseguirmos absorver o épico de maneira brilhante. O castelo de areia montado aqui é um evento que poucas vezes deu tão certo, é um castelo de areia que com certeza vai se tornar um monumento para a ficção científica no cinema. Conseguindo atingir o ápice do IMAX e suprindo uma carência que nem ao menos sabíamos que tínhamos, a sequência de Duna é um espetáculo por completo, atingindo a coragem necessária para montar em um titã verme, e a imensidão que um deserto tem.
Escrito por: Pedro Godoy
Nota: 5/5