"Todos Nós Desconhecidos" conquista por trazer abordagem sincera e sensível sobre o amor
Escrito por
Redação Acidamente Sensível
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Em “Todos Nós Desconhecidos”, o diretor, que também escreveu o filme, Andrew Haigh, consegue conquistar por
tratar de forma misteriosa e única o amor, solidão e medo, tudo isso sendo mostrado logo de cara no começo do filme, sem qualquer pressa ou exageros.
A história do filme é a partir dos olhos de Adam, um homem gay que é roteirista e tem por volta dos seus cinquenta anos, e que se vê com um bloqueio criativo para terminar seu próximo texto, que tem um valor significativo para ele, pois se trata dos seus falecidos pais. Ele mora em uma Londres fictícia, em um prédio completamente deserto, contendo apenas dois moradores: Adam e seu vizinho, Harry. Após sua rotina solitária ser interrompida quando Harry bate em sua porta e oferece companhia, que é recusada de primeira instância, futuramente o roteirista se deixa levar e começa a conhecer melhor seu vizinho. Enquanto isso, o protagonista da história diverge dessa vida solitária com questões mal resolvidas envolvendo seus pais e uma infância conturbada. Após uma viagem para sua casa de infância, algo inusitado e assustador acontece, Adam acaba reencontrando seus falecidos pais, e é aqui que o coração da história reside, mostrando séries de conversas entre a mãe e o pai de Adam, interpretados por Claire Foy e Jamie Bell.
O que de melhor tem nessa história é o mistério, e como esse fator nos leva a mergulhar na psique de Adam, levando o telespectador a sempre levantar novas perguntas e de fato nos preocuparmos com o que estamos vendo. Haigh já comentou que sua principal inspiração para a história é o livro do autor japonês chamado Strangers, do autor Taichi Yamada, de 1987. Ambas histórias são consideravelmente parecidas, mas o que o diretor tenta trazer de novo é a ideia de abordar pautas como homofobia e relações familiares em uma Inglaterra dos anos 80. Tudo isso, a partir de um filme “simples”, contendo poucos personagens e locações, focado em apresentar uma ótima experiência audiovisual, sempre propondo e desafiando o público a sentir novas emoções, sensações e sobretudo, refletir.
Na parte técnica, o filme é um espetáculo. Sua simplicidade traz o que de melhor o cinema pode fazer: a criatividade. Todos os atores ficam sob uma iluminação que diz mais do que dezenas linhas de diálogo, sempre focando na dramaticidade e no que eles estão sentindo, desde sentimentos de felicidade e sexuais. Além disso, possui um design de produção espetacular, que nos faz entrar dentro da história e na vida de Adam sem ao menos perceber quando é que nós fomos fisgados. Um jogo de câmera que por muitas vezes causa estranheza, mas que é essencial para entendermos todo mistério da história, é como se realmente estivéssemos dentro dos pensamentos confusos, tristes e traumatizados do protagonista. É louvável como o diretor traz o cinema sensorial para os dias de hoje.
O filme abraça diversas reviravoltas, mas não perde em nenhum momento seu real objetivo e o porquê dessa história tem que ser contada. A sensibilidade em como o roteiro é construído e se transforma diversas vezes é surreal, como se tudo fosse líquido, mas em nenhum momento algo se perde ou evapora. Como dito acima, a história aborda diversos assuntos como AIDS, pautas LGBTQIA +, amor e entendimento entre pais e filhos, primeira paixão e como estamos dispostos a deixar alguém entrar nas nossas vidas, e principalmente, como é importante deixar essa pessoa entrar e abraçar nossas inseguranças, não rejeitá-las. Tudo é bem justificado e esclarecido, para que nenhuma pauta trazida fique de fora ou só parecendo uma propaganda.
Tudo isso é bem executado, principalmente por conta das atuações. A química entre Paul e Andrew é de se arrepiar, seja por meio dos diálogos ou expressões corporais, é palpável o amor, respeito, insegurança e confiança que ambos sentem mutuamente. Com certeza, um dos melhores trabalhos de ambos e que espero que não sejam ignorados, o que eles fazem aqui poucas vezes tinha visto.
Uma coisa que percebi escrevendo essa crítica é que cada vez mais penso no filme, eu me apaixono mais ainda. A forma em que tudo que é abordado é sensível, mesmo que não responda todos os “porquês”. O amor, ternura, inseguranças, tristeza e felicidade muitas vezes vêm até a gente sem motivos, esses sentimentos são muitas vezes inexplicáveis, e a partir do inexplicável que “Todos Nós Desconhecidos” emociona e te abraça, sabendo que todos nós já vivemos algo parecido. Um dos melhores filmes que vi esse ano, fenomenal.
Nota: 4.5 / 5
A história do filme é a partir dos olhos de Adam, um homem gay que é roteirista e tem por volta dos seus cinquenta anos, e que se vê com um bloqueio criativo para terminar seu próximo texto, que tem um valor significativo para ele, pois se trata dos seus falecidos pais. Ele mora em uma Londres fictícia, em um prédio completamente deserto, contendo apenas dois moradores: Adam e seu vizinho, Harry. Após sua rotina solitária ser interrompida quando Harry bate em sua porta e oferece companhia, que é recusada de primeira instância, futuramente o roteirista se deixa levar e começa a conhecer melhor seu vizinho. Enquanto isso, o protagonista da história diverge dessa vida solitária com questões mal resolvidas envolvendo seus pais e uma infância conturbada. Após uma viagem para sua casa de infância, algo inusitado e assustador acontece, Adam acaba reencontrando seus falecidos pais, e é aqui que o coração da história reside, mostrando séries de conversas entre a mãe e o pai de Adam, interpretados por Claire Foy e Jamie Bell.
O que de melhor tem nessa história é o mistério, e como esse fator nos leva a mergulhar na psique de Adam, levando o telespectador a sempre levantar novas perguntas e de fato nos preocuparmos com o que estamos vendo. Haigh já comentou que sua principal inspiração para a história é o livro do autor japonês chamado Strangers, do autor Taichi Yamada, de 1987. Ambas histórias são consideravelmente parecidas, mas o que o diretor tenta trazer de novo é a ideia de abordar pautas como homofobia e relações familiares em uma Inglaterra dos anos 80. Tudo isso, a partir de um filme “simples”, contendo poucos personagens e locações, focado em apresentar uma ótima experiência audiovisual, sempre propondo e desafiando o público a sentir novas emoções, sensações e sobretudo, refletir.
Na parte técnica, o filme é um espetáculo. Sua simplicidade traz o que de melhor o cinema pode fazer: a criatividade. Todos os atores ficam sob uma iluminação que diz mais do que dezenas linhas de diálogo, sempre focando na dramaticidade e no que eles estão sentindo, desde sentimentos de felicidade e sexuais. Além disso, possui um design de produção espetacular, que nos faz entrar dentro da história e na vida de Adam sem ao menos perceber quando é que nós fomos fisgados. Um jogo de câmera que por muitas vezes causa estranheza, mas que é essencial para entendermos todo mistério da história, é como se realmente estivéssemos dentro dos pensamentos confusos, tristes e traumatizados do protagonista. É louvável como o diretor traz o cinema sensorial para os dias de hoje.
O filme abraça diversas reviravoltas, mas não perde em nenhum momento seu real objetivo e o porquê dessa história tem que ser contada. A sensibilidade em como o roteiro é construído e se transforma diversas vezes é surreal, como se tudo fosse líquido, mas em nenhum momento algo se perde ou evapora. Como dito acima, a história aborda diversos assuntos como AIDS, pautas LGBTQIA +, amor e entendimento entre pais e filhos, primeira paixão e como estamos dispostos a deixar alguém entrar nas nossas vidas, e principalmente, como é importante deixar essa pessoa entrar e abraçar nossas inseguranças, não rejeitá-las. Tudo é bem justificado e esclarecido, para que nenhuma pauta trazida fique de fora ou só parecendo uma propaganda.
Tudo isso é bem executado, principalmente por conta das atuações. A química entre Paul e Andrew é de se arrepiar, seja por meio dos diálogos ou expressões corporais, é palpável o amor, respeito, insegurança e confiança que ambos sentem mutuamente. Com certeza, um dos melhores trabalhos de ambos e que espero que não sejam ignorados, o que eles fazem aqui poucas vezes tinha visto.
Uma coisa que percebi escrevendo essa crítica é que cada vez mais penso no filme, eu me apaixono mais ainda. A forma em que tudo que é abordado é sensível, mesmo que não responda todos os “porquês”. O amor, ternura, inseguranças, tristeza e felicidade muitas vezes vêm até a gente sem motivos, esses sentimentos são muitas vezes inexplicáveis, e a partir do inexplicável que “Todos Nós Desconhecidos” emociona e te abraça, sabendo que todos nós já vivemos algo parecido. Um dos melhores filmes que vi esse ano, fenomenal.
Nota: 4.5 / 5
Estreia: 29 de fevereiro
Escrito por: Pedro Godoy