
Crítica do filme "Bingo: O Rei das Manhãs"
Escrito por
Viviane Oliveira
Publicado em
A Warner Bros. Pictures apresenta a cinebiografia de Arlindo Barreto, um dos intérpretes do palhaço Bozo.
NÃO POSSUI SPOILERS
Conhecemos Augusto Mendes (Vladimir Brichta), um ator de grande sucesso nos filmes de pornochanchadas e filho da atriz Marta Mendes (Ana Lúcia Torre). Ele tem uma relação muito afetuosa com o filho, resultado de um relacionamento com a atriz de telenovelas Angelica (Taina Müller).
Augusto tem um sonho de partir para outros palcos e por isso entra em contato com a emissora Mundial. Com a ajuda de Angelica, ele consegue uma pequena participação em uma novela, mas isso não é o bastante. Ele então promete ser um sucesso e "pisar" naqueles que o recusaram.
Surge a oportunidade em uma novela da TVP mas ele desiste ao chegar lá e saber sobre um teste como Bingo, um personagem de grande sucesso nos Estados Unidos. Depois de impressionar o diretor americano ele conquista o papel e se torna o rei das manhãs, mas não pode revelar quem é o homem por baixo da maquiagem.
Esse é o primeiro trabalho de Daniel Rezende como diretor. O mesmo inspirou-se em Birdman —filme que conta sobre o ator Riggan Thomson (Michael Keaton) que vive sufocado por seu maior personagem — alusão ao Batman vivido por Keaton em 1990.
Rezende trabalhou como montador em "Cidade de Deus" e conquistou uma indicação ao Oscar, mas nesse projeto preferiu se manter longe da função e confiou em Marcio Hashimoto para não ficar preso a ideias determinadas previamente.
Temos uma dimensão de como a televisão brasileira era em 1980. Mesmo cheia de exageros e com apelações cafonas, Augusto consegue criar uma nova forma de entretenimento. O talento do ator foi decisivo ao adaptar o humor estadunidense para os padrões brasileiros.

Apesar de baseado em fatos reais, quase todos os nomes e marcas foram alterados, exceto o de Gretchen (Emanuelle Araujo) que é um importante ícone pop da época e um marco na carreira de Augusto. Isso aconteceu não só para evitar lidar com direitos autorais, mas também para não afetar no desenvolvimento criativo do longa.
Vladimir Brichta não foi a primeira opção para o protagonista, mas depois de vê-lo em cena é difícil não imaginá-lo no papel. Com ampla experiência na comédia, ele complementou seu treinamento com o próprio Arlindo e Fernando Sampaio, palhaço e cofundador da companhia teatral Lá Mínima - a mesma da qual Domingos Montagner (que fez uma pequena participação) fazia parte. Montagner faleceu esse ano então vê-lo ao lado de Brichta falando sobre o que é ser um palhaço foi tocante.
O desenvolvimento do protagonista foi muito bem construído, mas pecou na conclusão. Por conta do contrato de autorização de reprodução firmado com Arlindo Barreto, o roteiro a deveria abordar semelhanças com sua vida atual "disseminando a palavra de Deus" segundo ele. No entando, essa "virada na vida" pareceu pouco convincente.
Para Augusto permanecer fora dos palcos é negar sua existência. O que pareceu ser sua maior oportunidade também foi o que quase lhe destruiu. Uma coroa pode ser muito pesada se você não estiver preparado para o que ela traz.
O longa estreia dia 24 de agosto de 2017.
4,5/5