EM COLETIVA DO FILME DA LAVA JATO O DEBATE SOBRE A POLÍTICA É ENCORAJADO
Escrito por
Viviane Oliveira
Publicado em
foto: Agencia Febre
Na coletiva para imprensa de "Polícia Federal - A lei é para todos" o diretor Marcelo Antunez contou que quis construir um thriller investigativo, coisa pouco comum no cenário brasileiro. Para isso ele encontrou duas grandes dificuldades: abordar uma história que é escrita até hoje, o roteiro aborda apenas acontecimentos até março de 2016, e as cenas de ação. Quando questionado sobre suas inspirações, Antunez apontou "Spotlight" e "A Grande Aposta" quanto a história. No entanto, na estética ele preferiu criar uma identidade brasileira.
No longa o público verá muitos personagens reais, mas os principais tem nomes fictícios por uma razão. Inúmeros delegados e promotores passaram pelo caso da Lava Jato, por isso cada personagem principal é a fusão de vários dessas autoridades. A personagem de Flávia Alessandra, Bia, representa todas as delegadas envolvidas no caso, mas sua maior inspiração é Érika Mialik Marena. Após uma experiência com Érika ela construiu uma personagem que mantém a feminilidade, mas sem anular sua força. O ator Bruce Gomlevsky achou muito interessante conhecer os delegados e a firma que essa experiência o deixou inspirado. Tanto a Polícia Federal quanto o Ministério Público foram muito elogiados por toda equipe pela ética com que conduzem as investigações.
Nenhum deles em nenhum momento quis nos apresentar a verdade absoluta, disse o ator Antonio Calloni sobre as autoridades da Polícia Federal que conheceram.
Principalmente depois que a investigação chegou ao nome do ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva o país foi dividido. Amizades foram desfeitas, famílias começaram a discutir e tentou-se achar quem estava certo e quem estava errado. Gomlevsky acredita que houve uma grande desilução por parte do país e foi criada essa polaridade de opiniões, hoje não há mais uma definição de direita e esquerda na política. O longa pretende deixar a discussão viva, mas de uma forma que ela seja feita consciente e saudável.
foto: Agencia Febre
A imprensa no filme aparece de duas formas: imparcial e parcial. Da segunda forma Ramirez desejava criar um desafio aos protagonistas que começaram a criar seus questionamentos internos. Mas em nenhum momento ele teve o objetivo de criar heróis ou vilões, para ele é necessário tirar essa ingenuidade das pessoas que acreditam que existe o bem e o mal.
Diferente da maioria dos filmes brasileiros, o thriller investigativo não utilizou a Lei de Incentivo à Cultura. Todo o investimento foi feito por investidores privados que não podem ser divulgados por conta de um contrato. Isso levantou curiosidade da imprensa quanto a intenção do longa em beneficiar alguém. Entretanto, o diretor acredita que não faria sentido utilizar dinheiro público em um filme que trata do uso dos cofres públicos, além disso, por ser um assunto polêmico foi fácil achar empresas privadas interessadas em patrocinar.
As locações utilizadas para realização do longa são de extrema importância, especialmente por elas terem representado uma grande parcela dos gastos. O interior da Polícia Federal em Curitiba e do Ministério público são cenários, enquanto que a casa de Marcelo de Odebrecht é uma locação alugada. No entanto, Antunez quis gravar a verdadeira fachada da Polícia Federal em Curitiba e o Salão Presidencial no Aeroporto de Congonhas pelo peso que ele carrega já que antigos presidentes do país passaram por ali.
Em uma democracia jovem Antunez sabe que muitas vezes o debate pode ser desordenado, mas fica feliz por ele existir. Com o maior envolvimento dos jovens, principalmente com as redes sociais, Gomlevsky acredita que esse filme interessa pra todas as idades. Flávia Alessandra reforça que a melhor forma de aprender é através da arte, o que pode assegurar um futuro mais consciente.
O longa tem intensa participação da Polícia Federal mas, conforme os acusados passam a ser políticos, outros órgãos públicos se envolvem. Foi anunciado que será feita uma trilogia, tanto nos cinemas quanto nos livros, e no segundo filme é provável o crescimento do Ministério Público já que fatos como impeachment da ex-presidenta Dilma Roussef será explorado. Uma presença muito esperada é a do juiz Sérgio Moro, interpretado pelo ator Marcelo Serrado, que foi muito discreta nessa primeira fase.
Não deixem de conferir a crítica de "Polícia Federal - A lei é para todos" aqui no Acidamente Sensível.